terça-feira, 12 de maio de 2020

Os espertalhões do nosso Brasil

Eu percebo que, pelo menos no meu ambiente de trabalho, não sou uma pessoa levada muito a sério. Confesso que tenho um jeito bem mais "jovem", por assim dizer, do que o das pessoas da minha faixa etária (e de fato eu não me identifico com os tiozões tetudos e com 2 filhos que estão na minha faixa etária). E eu sinto que eles acreditam que são muito espertos.

Estou atualmente de férias por livre e espontânea pressão, dadas as circunstâncias do momento. Como não podia deixar de ser, existe um grupo do Zap da área em que trabalho, então querendo ou não eu acabo recebendo mensagens tanto dos chupadores de saco, quanto dos isentões e do próprio chefinho tetinha. E o que motivou essa postagem de hoje é o relato que segue.

Desde que iniciei no mundo dos investimentos e em minha busca pela IF, tenho dedicado muito tempo ao estudo destes temas. Inevitavelmente, as pessoas no trabalho acabaram percebendo essa minha "nova tendência", pois acabo fazendo comentários e puxando assuntos que tem as finanças como centro. De imediato, já passei a ser taxado como o "muquirana", o cara que "não sabe viver a vida".

O típico colega de trabalho que "não me leva a sério" com Enzo no meio (Valentina não está na foto) e sua esposinha, no parquinho do condomínio (que custa R$1500/mês), do apartamento financiado em 25 anos. Vai lá, campeão!

Todos esses meus colegas de trabalho querem se tornar milionários, para poderem parar de trabalhar. Sabem como eles querem que isso ocorra? GANHANDO NA MEGA SENA. Vocês não leram errado. TODA vez que a Mega Sena acumula, lá vão os espertalhões fazerem um bolão pra jogar. É claro que eu nunca participei de nenhum.


"Vamo, Tardio, se a gente ganhar você vai ficar aqui trabalhando sozinho!"

Eles jogam em média CEM REAIS cada um, cada vez que esta porra de jogo duvidoso que eu acho muito capaz de ter maracutaia pois estamos na Banânia acumula. Isso já deve ter acontecido pelo menos 5x no último ano.

Então, estou eu aqui de buenas nas minha férias, trancafiado em casa, e vejo uma mensagem no Zap do trabalho: "Pessoal, só tenho uma notícia pra falar pra vocês..a Mega acumulou e tá em 90 milhões". Eu, pra dar uma de engraçadão, mandei uma resposta: "E eu só tenho uma outra notícia pra falar..a Cielo tá abaixo de R$4 e a Itaúsa liberou os resultados financeiros mais recentes". Em um uníssono, praticamente TODOS do grupo responderam: "Prefiro a notícia do fulano!"

"Caralho, Tardio, vem aprender a ser esperto com a gente."

Então, sempre que é feito esse bolão, o assunto da semana se torna "o que vamos fazer quando ganharmos o prêmio" (sim, eles utilizam essa terminologia, todas as vezes). E o que eu pude perceber de tudo  o monte de bosta que ouvi é que existe um grande objetivo em comum: parar de trabalhar. Essa é uma coisa citada por TODOS eles, inclui-se aí o chefe tetinha. Alguns demonstram bem como amam o trabalho, falando que iam chegar em uma reunião e mandar todo mundo tomar no cu, assim que desse vontade. Outros são menos extremos, dizendo só iam sumir do mapa mesmo. Tem, também, os ortodoxos, que dizem que iriam cumprir o aviso prévio e ir embora. Mas o objetivo central é comum a todos. Então, vos indago aqui: o que caralhos esse povo está fazendo de concreto pra atingir esse objetivo? Eu mesmo respondo:

"Enquanto não posso parar de trabalhar, deixa eu pegar um carro 0km de 100 mil reais aqui com meu bônus."

Vale lembrar que, aqui, estou lidando com o que há "de melhor" na população brasileira, os 5% mais ricos, a elite intelectual, os estudados. Vê-se que não há de fato um planejamento concreto quando o assunto é finanças. Nenhum deles investe em bolsa (em porra nenhuma, muito provavelmente) e acham que eu "estou deixando de viver" por que busco aportar tudo que posso. Meus amigos, eu não deixo de viver, eu só não sou acéfalo o suficiente pra comprar carro de R$100 pau financiado, ou comprar um AP com varanda gourmet e pagar mais 1x seu valor só em juros de financiamento. Há uma grande repressão à qualquer estilo de vida que se descole da matrix, você é julgado violentamente se não mostra que adere à esse padrão. Eu tenho mais de 30 anos, não tenho carro, não comprei apartamento, não sou casado e não tenho filhos, e ainda por cima venho falar de investimentos em bolsa no trabalho. "Mas que belo lixo de pessoa fracassada você, hein?"

Esse cenário todo, as vezes, chega até a me trazer sentimentos que não sei se são bons, pois acabo me sentindo de fato melhor do que essas pessoas. Acabo achando que estou um degrau acima deles, é algo involuntário, eu não escolho sentir isso, mas não tenho certeza se isso é bom. O que tenho buscado junto com meu crescimento financeiro é o crescimento como pessoa, mas confesso que é difícil lidar com esse tipo de situação e não pensar "caralho, eu podia ser mais um mentecapto desses, que bom que eu não sou! Sou foda, porra!"

Bom, desabafo feito. Abraços Tardios!

18 comentários:

  1. Poucos são os que tem planejamento de longo prazo, com bases sólidas e viáveis.
    Se você percebe isso entre os mais abastados, imagine então para aqueles que já não tem condições financeiras favoráveis ao sonho da IF...
    Eu também sou aportador, não ostento, sou discreto, sou solteiro sem filhos e sei do que você dia. Já está nas entranhas da mente de boa parte da população de que você tem que torrar tudo o que ganha, se não faz isso, tem algo errado.
    O certo para muitos é passar o fim de semana enchendo o bucho de álcool. Mas fazer o que...
    Sinceramente, não me acho me melhor ou "o cara" por me comportar de forma diferente, só quero que não me encham o saco por conta disso, também não tiro totalmente a razão de algumas pessoas que vivem um estilo carpe diem, afinal sabem que a IF é algo distante, então fazem o que acham importante para aproveitar a vida de suas maneiras.
    Respeitando o espaço do outro, pra mim tá ok.
    A critica que faço são para alguns homens "pais de família" que exercem esse papel acredito eu, mais por pressão social do que por vontade própria, são caras que inventam todo tipo de motivo para não voltar pra casa.
    Churrascos, ficar batendo papo com colegas de trabalho, indo em botecos etc. As vezes penso que esses caras não aguentam ficar em casa com suas esposas e filhos ou suas esposas e filhos não os aguentam.
    Aí fazem dos seus locais de trabalho extensões de suas casas, muitas vezes são puxa sacos e esses comportamento acabam de certa forma comprometendo a todos. Isso que acho injusto.
    Fora isso, cada cuida de sua vida e tá tuco certo.

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    1. Olá, Anon!

      Eu, infelizmente, quando vejo esse comportamento dos colegas acabo sentindo que falei no meu texto, involuntariamente. Esse é um sentimento que quero me livrar, e tenho trabalhado nessas questões comportamentais e emocionais.

      Quanto à essa crítica que você fez, isso é algo que também percebo bastante. Vejo muitos homens "enrolando" para não terem que voltar pra casa, enquanto eu sempre busco voltar o mais cedo que eu posso.

      Abraço!

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  2. Fala meu amigo Enginner.

    Cara, eu até o momento me mantenho no modo "ghost", ou seja, não falo nada sobre investimentos e ninguém sabe que eu invisto, nem mesmo minha família, que aliás, deve ficar intrigada pois não sou de ostentar nada.

    Prefiro ficar na minha, quando você fala que investe surge parentes pedindo dinheiro emprestado, colegas de trabalho curiosos, aquele tio chato te zuando no churrasco porque você comprou PETR4 e o petróleo despencou e etc.

    Esses dias vi uns peão no trabalho falando sobre bitcoin e apostas esportivas, nem falei nada. Outro dia, na padaria o dono falando de Magazine Luiza, fiquei na minha again, me controlando. Pior é minha mãe investindo em título de capitalização e meu irmão recentemente falando em ações da BRF hahaha.

    Enfim, fico na minha, deixo meu Blog pra divagar sobre esses temas hehehe.

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    1. Boa, Colheita!

      Então, eu por um descuido acabei começando a comentar sobre esses assuntos no trabalho, mas já percebi que foi uma péssima ideia. Já para família SEM DÚVIDA eu não vou comentar com ninguém. Se minha família souber que estou "investindo na bolsa", automaticamente vão concluir que estou "com grana" e os favores monetários vão começar a ser expedidos. Infelizmente grande parte da minha família se encaixa no "carpe diem", o que significa que quanto menos souberem, melhor. Triste mas é a realidade.

      Abraço!

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    2. O segredo é não comentar com ninguém, exatamente como disse o CD

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  3. Entendo o seu afortunio engenheiro. Mas acho besteira ficar se preocupando com esse tipo de pessoas. E o seu comentários no grupo soou arrogante e soberbo. Você insinuar que você é mais inteligente que fulano por investir é tolisse, salomão alerta isso o tempo inteiro em Provérbios na Biblia.

    Não dá para você querer que um tolo sejá sábio. Não tem oque você possa fazer.

    Depois que eu aprendi que todos os homens ricos e influentes do Brasil e do mundo, quase não entram na internet, não discutem, não tentam impor suas verdades e vivem suas vidas focados somente neles mesmos. Eu percebi que eu deveria fazer o mesmo para eu ser feliz.

    Então parei de reagir a esse tipo de situações.

    O Melhor é sempre ignorar...

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    1. Olá, Peão!

      Na realidade eu não dei a entender para eles que eu me acho mais inteligente por investir, não fiz nenhuma insinuação nesse sentido (o comentário sobre a Cielo e a CVC foi mais para "fazer graça"). O que ocorre é que, como descrevi, as vezes me sinto tomado por esse sentimento de superioridade, o que tenho total ciência de que não é benéfico. Tenho trabalhado essas questões emocionais pois considero importante também a evolução como pessoa, e não apenas financeira.

      E ah, eu sou ateu, hehehe.

      Abraço!

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    2. Eu sei que não foi sua intenção, mas da forma que falou, soou soberba, e você pode ser visto com maus olhos pelas pessoas, prejudicando até mesmo seu trabalho e convivio com o resto do pessoal.

      Esse sentimento de superioridade é normal, mas é uma coisa que tem que estar sobe controle.

      Sobre a questão de ser Ateu, acredito que você disse por eu ter citado o livro de Salomão. Mas o Livro dele está muito mais relacionado com Sabedoria de vida do que com a existência do Deus em sí.

      Enfim , fiz um comentário interessante na sua postagem sobre a namorada, da uma verificada lá.

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  4. Fala Engenheiro, Conheço bem o sentimento.

    Quando falava com alguns colegas sobre investimentos, não comprar carro, casa etc, a galera me chamava de louco e etc.

    No começo ficava puto, depois a melhor resposta que encontrei foi o silêncio.

    Simplesmente passei a não me preocupar com isso, e ao não entrar em discussões sobre o assunto.

    e isso me fez um bem danado, e hoje quando há algum começo de discussão que percebo onde vai dar eu simplesmente concordo e finalizo o assunto.

    Se tem uma coisa que o casamento me trouxe foi o aprendizado que as vezes "É melhor ser feliz do que ser certo".


    Abraços,
    Maromba Investidor
    https://marombainvestidor.com/

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    1. E aí, MI!

      Acredito que também já aprendi como devo me comportar em relação à isso: ficar calado. Eu sou inclinado a querer compartilhar as coisas que acredito serem “boas descobertas”
      com as pessoas e vê-las descobrindo também, mas acaba não valendo a pena mesmo.

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  5. Não se deixe levar por estes pensamentos de superioridade, são eas escolhas deles, escolhas ruins, mas eu defendo que eles tenham liberdade para tomá-las, a internet ta aí pra qm quiser aprender, eles escolheram a ignorância.

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    1. Sem dúvida, Astronauta. Assim como na vida financeira a nossa evolução como pessoa também deve ser constante, e acredito que estou “melhorando” nesse quesito, também.

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  6. Hahaha, sou engenheiro tb, queria vc como colega de trabalho pra trocarmos uma ideia de finanças. Esse papo nosso quase sempre é solitário. Um dia desses vi uns amigo conversando sobre a alta do dolar e já fui meter meu bico no meio, não aguento, gosto demais do assunto ahahaha.
    Mas é isso cara, tem que sair dessa matrix dele e viver o que vc acha melhor para o seu futuro, larga eles pra lá. Meus pais são aportadores de poupança e compradores de megasena e não consigo mudar a cabeça deles, pelo menos eles já são aposentados tranquilos

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    1. Ola, EpI!

      Já me convenci que é uma besteira querer discutir esses assuntos com esse pessoal. Realmente o silêncio, nesses casos, é o melhor amigo.

      Meus pais também sempre foram aportadores de poupança, mas no caso deles hoje estão aposentados pelo INSS e sem poupança alguma..cabe a mim não perpetuar essa moda.

      Abraço!

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  7. Fala, engenheiro!
    Pagar mais 1x o valor do apartamento em juros? Pegou leve, acho que você paga umas 4 ou 5x o valor do imóvel se realmente demorar os 25-30 anos para quitar, se não adiantar nada do financiamento. Seus colegas estariam melhores se ao invés de torrar bônus com carrão, adiantassem as prestações de seus financiamentos imobiliários...
    Outra coisa, não fale de investimentos com colegas de trabalho, isso não traz nada de bom, e pode resultar em algum colega te pedir um empréstimo...
    Forte abraço!

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    1. Ola, Mago!

      É, talvez eu tenha até sido conservador nessa estimativa de financiamento, rs
      Mas de fato não farei mais comentários sobre investimentos nem nada do gênero com esse pessoal. Eu sou do tipo que quero compartilhar algo quando acredito muito no valor daquilo, mas não vale a pena nesse caso.

      Tá adicionado no blogroll aqui também !

      Abraço

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  8. Gostei dos seus posts Engenheiro, seu pensamento é muito parecido com o meu, todo ano vejo meus amigos super inteligentes mas com 0% de planejamento financeiro.

    Vou adicionar no meu blogroll.
    Abraços

    https://afortunademrburns.blogspot.com/

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    1. Olá, MR. Burns!

      A relação do brasileiro com o dinheiro é uma coisa muito engraçada. Há uma enorme falta de educação financeira aqui, e é independente da instrução ou classe da pessoa.

      Valeu pela visita, vou dar uma olhada no seu também!

      Abraço.

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