sexta-feira, 19 de junho de 2020

Quando é que ficamos satisfeitos?

Não consigo dizer precisamente quando isso começou, mas desde muito tempo eu tenho levado minha vida sempre com objetivos bem definidos e centrais. Aos meus 18 anos, "chegou" a hora de tirar a carteira de motorista. Comecei a trabalhar no Japão ainda antes disso, então quando dei entrada na auto escola (que foi odne eu, de fato, aprendi a dirigir), eu já havia poupado dinheiro suficiente pra comprar meu carro. Tirar carta no Japão é quase como um vestibular: você, inicialmente, precisa passar em um teste prático dentro de um circuito na auto escola, e então em uma prova escrita com 50 questões (é necessário 90% de acerto). Uma vez passadas essas etapas, você obtém a 仮免許 (karimenkyo, ou "carta provisória"), que é uma carta que te permite fazer as aulas dirigindo com um instrutor ao lado nas ruas. Então, vem o teste final: percorrer um trajeto na rua e passar em uma segunda prova escrita com 100 questões (também necessário 90% de acerto).

Nessa época, meu objetivo de vida era tirar minha carta: TODO o tempo livre que eu tinha eu estudava os livros (sim, existem livros) sobre as questões e o código de trânsito japonês. Nos intervalos do trabalho na fábrica, que costumam ser de 40min para almoço e outros dois de 10 min cada ao longo do dia (1 hora de descanso em uma jornada de, pelo menos, 12h de trabalho), lá estava eu com meus livrinhos tentando absorver tudo que eu pudesse. Cerca de 4 meses depois, veio a boa notícia: APROVADO! E, então, o objetivo de vida foi alcançado. Só que, de alguma forma, a euforia passa muito rápido.

Depois disso, aos meus 19 anos, eu passei a me interessar por motos. Lá vou eu para o próximo objetivo: tirar a carta de moto. O processo é mais simples do que o anterior, pois como eu já possuia carta as provas escritas não eram mais necessárias. Ainda assim, como eu nunca havia andado de moto na minha vida e lá as cartas são divididas em 中型 (chuugata, que são motos até 400cc) e 大型 (oogata, que te dá o direito de pilotar motos acima de 400cc), eu queria tirar logo a carta sem limite de cilindrada, e as aulas são feitas em uma CB750. Para quem sabe algo de motos, sabe que essa é uma moto grande, então foi bem difícil nas primeiras aulas. Ainda assim, me esforcei bastante para aproveitar cada minutos das caríssimas aulas na auto escola, e então, bingo: 1 mês e meio depois estava eu com minha carta e minha moto, pois durante um período juntei o dinheiro para comprar a moto 0km a vista.

O próximo grande objetivo se deu bastante tempo depois, quando decidi voltar a estudar. Esse, sem sombra de dúvidas, foi o mais importante e  mais suado e todos. Durante esse tempo todo, até eu entrar na faculdade, minha vida girava em torno desse único tema: passar no vestibular de uma faculdade pública, pois não havia a mínima chance de eu (ou meus pais) pagarem uma faculdade particular. Foi um trabalho bastante árduo, estudos de segunda à segunda (sem exagero), noites extremamente mal dormidas com toda a minha baixa auto estima e pessimismo, achando que nada ia dar certo, mas o resultado veio. Fiquei extremamente feliz, é claro, mas sinto que, de alguma forma, eu me "esqueço" rápido dessas coisas..uma vez na faculdade inicia-se um novo objetivo de vida e uma nova angústia.

-"Vou conseguir me formar?"
-"Porra, fui super mal logo nas primeiras provas..vou acabar me fodendo"
-"Cara, depois de todo esse esforço acho que não conseguirei concluir esse curso...que desastre na minha vida"

Esses pensamentos me atormentaram por bastante tempo ao longo da faculdade. Nunca desfoquei do objetivo central de vida do momento, que era me formar. Estudei feito um filho da puta, fudido e mal pago, sem trabalhar, sem um tostão pra praticamente nada. Mas continuei no que era minha luta e, 5 anos depois, que inclusive é o período ideal de formação, eu estava "livre" da faculdade. Ainda não estava formado, mas havia encerrado todas as matérias. Então, lá vai a porra do Tardio com um novo objetivo de vida: estágio. Sem estágio eu não me formo. "Porra, vai ser difícil conseguir estágio..a galera manda muito bem nas dinâmicas e entrevistas. Será que eu sou páreo pra eles?"

Consegui rapidamente um estágio. O grande objetivo de vida, ao redor do qual minha existência orbitou desde o momento em que sai do Japão apra retornar ao Brasil, havia sido concluido. Estou formado, largar toda a minha vida, que apesar de tudo era bem estável, não foi em vão.

Existem dois padrões em toda essa minha história. O primeiro mostra que eu sempre acho que nada vai dar certo. Eu não me acho bom o suficiente e continuo não me achando. As pessoas sempre parecem mais descoladas, mais inteligentes, mais capazes. O outro padrão diz respeito à satisfação. Quando eu estava atrás de cada um desses objetivos eu tinha a impressão de que, se eu atingisse eles, a minha satisfação com a vida seria plena. O fato de ter atingido um objetivo anterior, de alguma forma, parece não influenciar em nada na minha vida quando já estou em busca de outro objetivo. Então, sinto que as coisas nunca estão suficientes, e acabo talvez não me dando um valor que talvez eu devesse dar..tipo, de onde eu vim? O que eu passei pra chegar onde eu estou hoje? Eu às vezes esqueço de responder essas questões antes de me sentir insatisfeito ou frustrado com as coisas, e talvez um caminho pra uma vida mais tranquila seja eu dar mais valor à todo o suor que foi despendido em cada um dos objetivos que eu estabeleci e, provavelmente, vou continuar estabelecendo em minha vida. Não quero achar que eu já fiz "o bastante", mas ao mesmo tempo quero buscar ser mais grato aos frutos que estou colhendo das coisas que vim plantando ao longo do tempo. Sempre vai ter alguem melhor, alguém que já está muito mais perto da IF do que eu com a mesma idade que a minha, alguém que tem a auto estima lá em cima e pega mulher pra caralho, alguém que é plenamente feliz em seu trabalho..mas cada um desses indivíduos aí tem uma história e eu tenho a minha, e não sei se há como dizer que uma história é melhor ou pior que a outra. Os resultados podem até ser classificados dessa forma, mas os percursos são meio que únicos.

Enfim, senti vontade de compartilhar essa reflexão com vocês aqui, e inclusive deixar esse relato registrado para que eu volte à ele com o passar do tempo pode ser algo interessante, também.
Quanto à pergunta do título da postagem, não sei responde-la. Não sei quando é que vou ficar satisfeito, ou talvez o que esteja me faltando é aprender a ficar satisfeito.

Um abraço.

15 comentários:

  1. Muito interessante seu ponto de vista e reflexão.

    Já viu o debate/apresentação do Clovis de barros filho e o Karnal sobre felicidade?

    Te da uma boa ideia sobre isso que tu escreveu em detalhes.

    https://www.youtube.com/watch?v=WCsQWHkWXbw

    Abraços.

    https://irfinancas.com

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    1. Olá, IR Finanças!

      Não vi esse debate, mas irei assitir. Obrigado pela sugestão e pela visita.

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  2. Cara essa questão de felcidade é um percepção pessoal e intransferível, é algo que simplesmente você sente ou não.
    Essa insatisfação permanente que muitos sentem acredito que tem haver com uma auto cobrança muito forte.

    Talvez Tardio, você venha de uma criação muito disciplinada e focada em objetivos, o que não é ruim, mas como tudo tem que ter equilíbrio, quando se exgera nisso ocorre o que você descreveu:
    Medo de errar, de não dar conta, constante pressão por resultados, impaciência, auto crítica pesada etc.

    Respondendo a pergunta do titulo: Ficamos satisfeitos quando somos nós mesmos e nos aceitamos da forma que somos e condições que estamos.

    Temos que encontrar sempre um equilíbrio, um meio termo entre satisfação X zona de conforto (negativa)

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    1. Anon, apesar de eu não sentir que fui "criado" de uma maneira muito severa (meus pais, por exemplo, nunca ligaram se eu estudava ou não..), devo concordar que a sociedade na qual eu cresci com certeza tem esse viés da disciplina e do trabalho duro.

      Com certeza eu ainda tenho um caminho à percorrer nessas questões de auto conhecimento e tal, sou uma pessoa muito boa com a parte racional do pensamento, mas essas questões emocionais não são meu forte.

      O bom é que reconheço isso e estou buscando me aprimorar.

      Abraço!

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  3. Excelente post. Temos que apreciar as nossas conquistas e não somente nos cobrar por novos resultados, já que essa pandemia mostrou que é importantíssimo apreciar o presente. Eu sinceramente não quero mais a IF, ela nada mais é do que um novo resultado dificílimo na sua vida, prefiro melhorar o meu currículo e garantir um salário bacana para viver uma vida excelente, inclusive não tenho mais medo de fazer empréstimos.

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    1. Pois é, Anon, eu tenho uma tendência a me nivelar empre muito por baixo.

      Eu continuo tendo como objetivo atingir minha IF, mas como esse é um objetivo de longo prazo, tenho sentido falta de estabelecer outros objetivos de curto prazo. Apesar de tudo, "carpe diem" definitivamente não combina comigo, hehe.

      Abraço.

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  4. Entendi o post, acredito que temos que ser sempre grato as conquistas, passar em um vestibular, formar, arrumar um emprego, manter empregado, comprar um carro, fazer uma viagem...tudo isso é fruto de disciplina e planejamento e ao mesmo tempo nunca temos que nos dar por satisfeito, temos que sempre correr atrás e algo diferente.

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    1. Beto, além disso tudo que você falou, no meu caso eu preciso me atentar aos dois padrões sue citei sempre estarem presentes na minha vida. Além disso, estou em busca de sempre lembrar de onde vim e o que fiz até o presente momento, bem como de aprender a ser mais grato ao meu próprio esforço.

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  5. estamos satisfeitos quando estamos mortos ;)

    abs!

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  6. Muito legal a reflexão, já tive bastantes dessas e sei como você se sente.

    No meu caso eu nunca "sei" o que quero, eu não tenho aquele objetivo master, aquele sangue no olho por alguma coisa, eu não tinha uma ocupação de prazer (nesse caso seja qualquer coisa agradável). Esse processo começou a melhorar em mim (mas ainda me sinto sem grandes objetivos) quando comecei a ler mais sobre autoconhecimento e talvez isso te ajude.

    Outra coisa que eu tenho que melhorar e que você relatou é PARAR de me comparar com a grama verde do vizinho. Eu sou sempre competitivo e me comparo com outros e acabo me sentido mal por isso pq quase sempre eu sou o bosta da comparação pq sempre nos comparamos com alguém a cima, não a baixo né.

    Estou tentando melhorar um pouco, espero que você também consiga.

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    1. Olá, EpI!

      Realmente parece inevitável essas comparações que fazemos da nossa pessoa com os vizinhos que tem a grama mais verde..ao mesmo tempo que acho que isso pode ser uma forma de estímulo para sempre melhorarmos, pode também tornar-se algo bastante danoso, dando a impressão de que nunca somos bons o suficiente. Como tudo na vida, temos que buscar o equilíbrio.

      Abraço!

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  7. Meu conselho.
    Direcione isso para um objetivo saudável e/ou positivo.

    Tipo academia, estudo, vida profissional ou até mesmo concurso público.

    Algo que esse esforço tenha um resultado benéfico para vc. Seja mais saúde mais grana.

    Eu tenho algo parecido e mas não tenho isso de achar que não vai dar certo.

    Só que o vazio que vem da conquista existe. Como se sempre precise correr atrás de algo.

    Já deu o pé na bunda da dadeira?

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    1. É Anon, a ideia agora é que eu direcione pra minha saúde e pro meu aprimoramento pessoal.

      Quanto ao namoro, no meu último post tem mais alguns capítulos sobre ele, rs

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